Aos 15 anos eu já não morava com meus pais.
Decidi morar numa casa vazia, do meu tio que havia vindo ao Japão, onde passei alguns bons momentos da infância e parte da minha adolescência. Trabalhava de dia e estudava a noite e meus dias eram pouco vividos lá dentro, contudo tenho boas lembranças daquele lugar.
Nessa época, incentivada por meu então ex-namorado que depois tornou-se meu marido, fui pela primeira vez numa igreja evangélica e o que me lembro foi de ter chorado do início ao fim naquele dia. Foi o início de uma grande caminhada, entrei e só saí, quando, entre idas e vindas neste relacionamento, me separei aos 33 anos. Foram 18 anos ininterruptos e ativos de minha vida vividos dentro de uma instituição eclesiástica.
Nesses 18 anos várias foram as experiências. Fui professora de escola dominical para os adultos, integrante principal do grupo de louvor, fundei junto com meu então marido uma filial de nossa denominação que iniciou em nosso pequeno apartamento no Japão cujos primeiros membros éramos nós mesmos: eu, meu marido e meus dois filhos. Nessa época atuei como preletora e conselheira de forma muito ativa.
Tive a oportunidade de viajar como missionária para vários países, fiz Bacharel em Teologia com Concentração em Missiologia e pude então conviver com pessoas e professores fantásticos como o próprio Dr. Russell Shedd, o qual tenho imensa admiração e respeito e guardo como um imenso tesouro suas palavras de sabedoria.
Contudo, mesmo estando dentro e estudando bastante a Bíblia sempre senti que faltava mais que não podia desprezar as demais pessoas que não pertenciam ou estavam fora da igreja, fazendo acepção delas, afinal ainda que desconheçamos, buscamos inconscientemente um ser superior em algum lugar, que por sua vez, pode ser Cristo, pode ser Krishna, pode ser Allah ou pode ser o Namastê, a partícula de Deus que existe dentro de cada um. Fui muito questionadora dentro do próprio seminário que cursei entre Japão e Brasil, quase num semi-internato. Nesses questionamentos sempre fui incentivada a não buscar respostas fora da Bíblia, o que confesso, incomodava-me bastante. Afinal, o que pode ser tão perigoso que não possa ser observado? Sempre acreditei que um bom alicerce resiste a quase tudo.
Especialmente quando se tem uma separação tão dolorida e se é impedida de participar de sua colação de grau pelo Seminário que dedicou-se tanto por quatros anos, inevitável é o questionamento sobre a veracidade do que se está vivendo neste exato momento e com isso, a busca é algo que passa ser o grande incômodo de qualquer ser humano. E é justamente aí que começa minha busca pessoal pela verdade.
E o que é a verdade? E, segundo quem?
Segundo Chauí (2008, p. 95) “Nossa ideia de verdade foi construída ao longo dos séculos com base em três concepções diferentes, vinda da língua grega, da latina e da hebraica.”
Aletheia (grega) se refere ao que as coisas são (isto é, o que ela foram e sempre serão tais como se manifesta ao nosso espírito); veritas (latina) de refere aos fatos que foram (Isto é,a acontecimentos que realmente se deram tais como são relatados); emunah (hebraica) se refere às ações e coisas que serão ( isto é,o que virá a ser ou o que virá a acontecer porque assim foi prometido) (CHAUÍ 2008,p, 96)
Conhecereis a Verdade e ela te libertará.
Jesus Cristo de Nazaré
Portanto, independente da definição intelectual e racionalizada da palavra e ancorada pela busca, já fora da eclésia e sem nenhuma interferência, mergulho na Filosofia Clássica, porque afinal,
Uma vida não questionada não merece ser vivida.
Platão
E é então que os anos que compreendem os meus 33 anos e porque não dizer, até o presente momento, faço um mergulho numa busca incessante pela ESPIRITUALIDADE despida de religiões, e sem a roupa da RELIGIOSIDADE.
Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece!
Nisso, minha busca começa quase que sem querer quando então tenho um encontro com a Pedagogia Waldorf durante o período em que estava licenciando em Pedagogia pela UFMT.
A busca era para a Especialização em Pedagogia, no entanto, quase sem querer, tenho o primeiro contato com uma Ciência Espiritual, com os setênios e tomo conhecimento das fases que marcam a vida do ser humano. A Antroposofia então entra em minha vida.
A Antroposofia é uma ciência espiritual moderna e prática, desenvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), que propõe uma forma livre e responsável de pensar, de perceber a realidade e de atuar, observando e respeitando o ser humano e a realidade na qual está inserido. Esta ciência pode permear o dia-a-dia como atitude, como visão de mundo e como possibilidade ampliada de trabalho em diversas áreas da vida humana: saúde, educação, agricultura, artes, convívio social, entre outras
É com ela que, nesse primeiro momento, entendo o porquê dos muitos questionamentos em determinadas fases da vida. Observe essa imagem:
Sei, nesta altura do campeonato você já deve estar me desconjurando, mas fica comigo um pouco mais para entender a dinâmica dessa imagem. Ela, na verdade, traz tanto os setênios quanto os nonênios mas por ora vamos nos ater somente aos setênios.
A vida separada em entendida por fases de sete anos cada, também traz os setênios multiplicado por 3 setênios, completando 21 anos, e é por isso então que a vida será dividida em quatro fases principais:
1 – Maturação Física (0 a 21 anos): 21 anos para Aprender,
2 – Maturação Anímica (21 aos 42 anos): 21 anos para Lutar,
3 – Maturação Espiritual (42 aos 63 anos): 21 anos para Aprender a Sabedoria,
4 – Exercitando a Maturação (63 aos 84 anos):21 anos para Exercer a Sabedoria.
E se você perceber as Trajetórias Espirituais, Física e Psicológica caminham juntas. E adivinha qual destas é praticamente a única a obter um crescimento significativo com o passar dos anos? Sim, a ESPIRITUAL. E é por isto que eu te convido a atentar-se para esta importante área de sua vida. Perceba que não estamos falando de uma determinada religião em si mas da verdadeira espiritualidade.
Já deu pra dar uma boa clareada? Espero que sim…
Nos vemos na próxima!
Sandra é Pedagoga, ou melhor, Empreendegoga, Creator & Founder dos Projetos Sociais UniExcellence Japan, UEH Project, UETV. Foi Educadora em Humanidades por 10 anos no Japão, passando por diversas Escolas Brasileiras no Japão, além de NPOS, Associações e Instituições Governamentais. Atualmente vive em Osaka onde dirige uma empresa familiar, a Chammem Group, voltada à Construção Civil e é a atual coordenadora do FORON EdMund.
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