FASE CONSELHEIRA

Participação Política na Defesa da Educação

Encontro com a Diplomacia e a fase conselheira

Era meados de 2010 e eu havia ido ao Consulado Geral de Hamamatsu para resolver umas questões, enviar uma procuração ao Brasil, senão me engano. Neste momento a atendente me perguntou se eu já tinha a Carteira Consular e se não gostaria de fazer, digo que sim e passo a ser a número 80.

Neste momento ela também me pergunta se não gostaria de me candidatar para o Conselho de Representantes para os Brasileiros no Exterior (CRBE), pergunto do que se trata e ela me diz que o Itamaraty estava realizando a primeira eleição oficial para escolher 32 brasileiros que representariam as regiões onde há concentração de brasileiros no Exterior.

Digo que seria interessante e me animo a me candidatar. A votação estava próxima e portanto o prazo para uma campanha também. Mas decidi investir.

Engraçado como soube que havia sido eleita conselheira suplente

Um repórter do Okinawa Times que já havia me entrevistado anteriormente me ligou no mesmo dia dos resultados das eleições e me parabenizou por ter sido uma das escolhidas e por representar, de certa forma, os uchinanchus. Ao fazer a averiguação constatei que era uma das 5 conselheiras eleitas pelo Japão e uma das duas mulheres pelo grupo que compreendia a Ásia, Oriente Médio e Oceania. E é nesta ocasião que começo, oficialmente, minha caminhada pela diplomacia e a política brasileira.

Mas antes de prosseguir preciso começar do começo e explicar um pouco como e quando a veia política entra na minha vida numa forma de ilustrar que tanto a política quanto o seu ideal de justiça sempre fizeram parte do meu ideal como ser humano. 

Aliás, foi interessante descobrir nas minhas aulas atuais de Filosofia Clássica como a Política assim como a Religião são um dos arquétipos do mundo ideal. Assunto este que vou tratar com maior profundidade na Fase EmpreendeGoga.

Não me recordo exatamente quantos anos tinha, talvez, 9 ou 10 anos de idade.

Meus primeiros livros foram adquiridos ainda no Ensino Fundamental dos Anos Iniciais e me lembro claramente, num destes momentos, num destes livros, o fascínio ao ler sobre a história de dois irmãos:  Betinho e Henfil. Henfil, que nome diferente eu pensei. Curiosa, fui pesquisar e descobri que os irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário eram hemofílicos e acabaram contraindo HIV por conta dessas transfusões de sangue. Se você nunca ouviu falar de Herbert José de Sousa, o irmão do Henfil, como cantou Elis em o Bêbado e o Equilibrista (que também é um baita duma história) sugiro que despojando-se de qualquer vestimenta política o faça. 

Sociólogo, Herbert de Souza foi o criador da campanha contra a fome e lutou por 14 anos contra a Aids, vindo a falecer em Agosto de 1997, nove anos após os seus irmãos.

A figura de Betinho com um prato vazio ao fundo despertou em mim, num comercial na TV, ainda tão pequena, a vocação social, o entendimento de que não existe nós e eles, mas que existe somente nós. 

Aí começa pela admiração e preocupação pelo Social. Aí começa minha curiosidade infantil sobre o que é o poder político e como este deveria ser o caminho que nos levasse à justiça, o ideal da Justiça.

Assim começo na leitura com um conteúdo que me faz pensar e entender que se a minha vida era dura, haviam outras, muitas outras pessoas que padeciam no mundo e que algo deveria ser feito.

Sou imensamente grata a essas leituras, a esses autores, a esses intermediários do saber porque foi dessa forma que algo dentro começara a mudar (ou relembrar), a me fazer um ser humano preocupado com o outro ser humano.

Um fato ainda na adolescência também contribuiu para esse contínuo.

Aos 13 anos de idade eu ganhei de presente de aniversário de uma tia querida, um livro, cujo título era: Sandra Mara Herzer, A Queda para o Alto. O livro conta a história de Sandra que posteriormente passa a se chamar Anderson e que tem uma história trágica. Sem dar spoiler sobre o livro ou se preferir você pode assistir ao filme Vera de 1986 que é uma adaptação do mesmo, preciso dizer que um fato ocorrido logo nas primeiras páginas tomou-me a atenção para um nome, um homem. Aqui passo a conhecer, pela primeira vez, a figura de um político de perto e desde então esse homem tem a minha total admiração, seu nome, Eduardo Matarazzo Suplicy. 

Esse parênteses importantíssimo foi para ilustrar que de certa forma a sede da justiça e do social despertou cedo por aqui. Foi um processo que começou na infância, se fortaleceu na adolescência, tomando forma na liderança e participação ativa em vários movimentos aos quais fiz parte, e que por isso, candidatar-me ao CRBE foi vislumbrar a oportunidade de pôr em prática o ideal de justiça e solidariedade. Mesmo na posição de suplência pude atuar de forma muito ativa seja como conselheira do CRBE, seja como conselheira do próprio Consulado Geral de Hamamatsu onde permaneci até mudar-me para Viena em 2015. 

Ver o que é injusto e não agir com justiça é a maior das covardias humanas.

Desde a posse dos conselheiros em Dezembro de 2010 no Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro até deixar o cargo em Dezembro de 2015 foram muitas reuniões, muitos congressos e muitas petições, colocações, pontos de vista que às vezes foram observados, e outras vezes, não. Situações estas que vou procurar de forma gradativa e contínua, compartilhar por aqui.

 

Mesmo sem nenhuma atuação atual em nenhum partido político, nenhum grupo em específico, e em nenhum momento abandonar o ideal da Justiça, mas vestida agora com a roupagem do Empreendedorismo Social e a importância de pensar nos Negócios Inclusivos, a veia política amadurece e toma outra forma.

Descobri que sim, é possível exercer a política sem se afundar nela, quando se descobre a sua real função e de que, na verdade, todo político deveria ser antes de tudo, filósofo.

Mas essa é uma história que vocês poderão entender melhor na Fase EmpreendeGoga.

Nos vemos!

Até!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre a autora

Sandra M. Chammem

Sandra é Pedagoga, ou melhor, Empreendegoga,​ Creator & Founder dos Projetos Sociais UniExcellence Japan​, UEH Project​, UETV​. Foi Educadora em Humanidades por 10 anos no Japão, passando por diversas Escolas Brasileiras no Japão, além de NPOS, Associações e Instituições Governamentais. Atualmente vive em Osaka onde dirige uma empresa familiar, a Chammem Group, voltada à Construção Civil e é a atual coordenadora do FORON EdMund​.